PresidentA de Taiwan – a solteirona

No começo de 2016 Taiwan elegeu sua primeira presidentA. Tsai Ing-wen é um montão de coisas: formada pela Cornell University e pela London School of Economics, ex-professora universitária, experiente negociadora comercial, política veterana…

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E ainda assim, em um editorial publicado há algumas semanas em um jornal vinculado ao Partido Comunista chinês, um acadêmico do  People’s Liberation Army’s Academy of Military Sciences disse  que ela é, antes de qualquer coisa, uma  mulher solteira instável e”emocional”.

“Como uma política mulher solteira,ela não tem o fardo emocional do amor, as restrições da ‘família’ ou as preocupações com os filhos. Seu estilo e estratégia política  geralmente tornam-se emocionais, individualizadas e extremistas”, escreveu Wang Weixing, um especialista em Taiwan residente em Beijing.

O artigo conclui que as políticas chinesas em relação à Taiwan devem ser estruturadas de acordo com essas preocupações. “Ao lidar com Tsai Ing-wen, nós devemos considerar os importantes fatores de sua experiência, personalidade e mentalidade”, ele escreveu.

Esse texto não fala nada de novo, nem verdadeiro, sobre Tsai Ing-wen como pessoa, política ou presidentA. Ele disfarça o sexismo com psicologia, fingindo nos dizer algo sobre quem ela é ou o que ela vai fazer.

O que ele realmente faz é repetir o tropismo mais antigo que existe sobre líderes mulheres – que elas são guiadas pela emoção e não pela razão, que elas são instáveIs e não confiáveis, e que elas, irremediavel e irreversivelmente NÃO SÃO HOMENS.

Embora esse tipo de raciocício não seja novo, ainda assim ele é revelador por duas razões.

Primeiro, enquanto o editorial não nos diz absolutamente nada sobre Tsai, ele nos diz muito sobre sexismo e como é considerado uma vergonha ser solteira na República Popular da China.

Há somente algumas poucas mulheres nos altos escalões do Partido Comunista Chinês, e a difamação das mulheres é algo comum na imprensa controlada pelo partido. A organização de mulheres que tinha a tarefa de promover os direitos das mulheres na China ajudou a fomentar o mito de que as mulheres precisam se casar jovens ou correm o risco de virarem sobra lá pelos 27 anos.

Certamente, Taiwan não está livre de sexismo. Mas, pelo menos, há várias políticas de alto escalão em Taiwan, inclusive a presidenta Tsai. E os eleitores taiwaneses, em sua maioria, não fizeram do gênero dela ou estado civil um fator a ser levado em consideração na hora de escolher em quem votar.

Segundo, o artigo nos diz que foi escrito por um chinês credenciado e “expert” em assuntos China-Taiwan.

Wang é membro do conselho da Association for Relations Across the Taiwan Strait e chefe do departamento de estudos militares estrangeiros na Academia de Ciências Militares do Exército de Libertação Popular, em Beijing. Um homem cuja tarefa é ensinar aos outros sobre Taiwan.

Embora um simples editorial na imprensa controlada pelo partido não represente uma visão oficial ou mesmo dominante, ele ainda assim sugere que há pessoas com apenas uma compreensão muito superficial de Tsai (e de Taiwan) em posições de autoridade na China – e isso é muito mais preocupante do que qualquer outra coisa que Wang venha a falar sobre Tsai.

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