Barco – de Santarém a Manaus

No dia 02 de manhã cedo eu fui correr na orla de Santarém e aproveitei para ver como funcionava a ida para Manaus de barco. Eu já tinha lido em alguns sites que não rolava comprar passagem antecipada, só na hora mesmo, e que o barco naquele dia sairia as 13h. Cheguei no porto da Cargill lá pelas 9:00 só para descobrir que sites não valem nada quando o assunto é Amazônia. As coisas funcionam e mudam de funcionamento conforme dá na telha das pessoas.

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O barco sairia as 11h, sendo que eu deveria estar lá as 10h para conseguir atar a minha rede no melhor lugar possível. Corri de volta para o hotel, tomei café da manhã, arrumei minha mochila e a Néia me levou de volta para o porto. A mãe já tinha comprado duas redes no dia anterior e iria me emprestar uma para a viagem.

Chegando no porto, fiz o check in e comprei a corda que se usa para atar a rede. Beijo, beijo, tchau. Eu estava muito, mas muito empolgada mesmo para viver essa experiência. Dois dias e duas noites de barco no Amazonas. U-A-U.

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Entrei no barco que já estava cheio, redes por todos os lados, pessoas, crianças, malas, tudo justo e misturado. O barco tinha três andares, o andar de baixo pelo que eu percebi era o de “carga”, levando as coisas das gentes que estavam de mudança, gentes levando motos, e muitaaaaaaa banana. No andar do meio, onde eu pretendia ficar, já estava aparentemente lotado. Andei por todos os lados e não achei espacinho para mim. Aparentemente isso foi uma sorte, porque nesse andar tinha ar-condicionado e todo mundo com quem conversei falou que passou o maior frio a noite. Como sou friorenta extrema, ufa! Subi para o terceiro andar onde também não parecia ter espaço. Até que alguém me falou que tinha espaço SIM, que a lotação era 400 pessoas e mal tinham 200. Daí eu entendi que “espaço” é meio relativo. Eu ACHAVA que não tinha espaço, mas o espaço que eu tinha direito era bem menor do que eu esperava. Me espremi entre redes e pessoas e bagagens e achei um buraquinho bem no meio.

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Aham, bem ali no meio. Meus vinte anos de escotismo não ajudaram nada – não fazia a mínima idéia de como fazer o nó para atar a rede. Mas, por sorte, um cara bem massa de Sinop (MT) tava na rede do lado da minha e fez o nó pra mim. O barco só saiu as 13h no final das contas, mas TANTA gente depois de mim entrou e atou a rede que eu nem acredito como podia caber tanta gente!

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Assim que o barco saiu do porto, começou a festa. Na área de lazer, forró super alto e algumas pessoas bebendo (tinha um barzinho vendendo coisas nessa área de lazer). Um menino de Boa Vista que recém tinha sido  me chamou pra dançar, mas não, né? Só sei fazer trenzinho na Oktoberfest, não tenho quadril pra forró, não. Mas a música onipresente foi essa, que eu escuto até hoje quando quero matar as saudades:

A paisagem era deslumbrante o tempo todo. Floresta, Amazônia, mato, algumas fazendinhas com vaquinhas e casas em palafitas de quando em quando. Quando eu estava em Brasilia, o Eisse me falou que o pôr-do-sol na Ermida Dom Bosco era considerado o mais lindo do Brasil. Desculpa aí, mas essa gente que elegeu nunca viu um pôr-do-sol na Amazônia. Serião.

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As 18:00 eles anunciaram pelo alto-falante que era hora da janta. R$ 8,00 e uma marmita pronta. Para mim foi absolutamente uma tragédia. Na marmita vinha arroz, macarrão e um bife totalmente alienígena com uma cor que eu nunca vi antes. Ah, e a farinha de mandioca – que não tem absolutamente nada a ver com a farinha de mandioca branquinha que a gente come por aqui, ela é amarela e caroçuda. Dei meu bife pro Fábio de Sinop e fiquei no carboidrato³. O que me salvou foram as minhas pitombas e as barrinhas de chia que levei já imaginando que algo assim iria acontecer. Mas muitas pessoas levam as suas refeições, a família que estava acomodada na minha frente estava com uma caixa térmica gigantesca com tudo que você pode imaginar dentro, até leite achocolatado.

Lá pelas 10 da noite, a primeira parada, em Óbidos.

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Parecido com Alenquer, mas uma cidade maior. De madrugada, imagino que lá pela 1:00, outra parada em Juruti, mas eu estava dormindo, não vi nada. Até que consegui dormir relativamente bem na rede, e acho que foi bom ter pegado um lugar bem no meio porque assim ninguém passava por mim – as pessoas transitam pelo barco como se não houvesse rede + gentes dormindo, não se preocupam em esbarrar e empurrar e tal. O que me atrapalhou foi quando EU tive que usar o banheiro de madrugada – estava com uma infecção urinária fudida. Como eu não queria incomodar ninguém, e o andar estava entulhado de gente, tive que rastejar por baixo das redes.

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A questão do banheio era realmente complicada. Sem janela e no meio do barco, de metal, fazia um calor insuportável lá dentro (mais ou menos parecido com o calor que vem fazendo em Blumenau o tempo todo). É um cubículo bem pequeno, com uma patente, uma pia e um chuveiro. Passei uma boa parte da madrugada dentro dele (quem sofre com infecções urinárias me entende). Depois, voltar rastejando pra rede de novo.

O café da manhã foi o ponto alto. Sério, depois da janta-lixo da noite anterior eu nem imaginava que poderia ser tão gostoso. R$ 6,00 por sanduíche com queijo-presunto-margarina (meu presunto joguei fora), café com leite (adoçado, sempre adoçado), e um mingau de tapioca maravilhoso. Comi bem! No almoço eu não quis arriscar aquela marmita blergh e comi Cup Noodles que comprei na lanchonete. Não me julguem. Até que chegamos em Oriximiná, a maior cidade por ali.

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Oriximiná definitivamente é minha palavra indígena preferida. Ali, entrou mais um monte de gente no barco. E, para minha surpresa total, um casal conseguiu atar suas duas redes entre eu e o Fábio de Sinop. (grrrrr) O que já estava apertado ficou ainda mais. Mas pelo menos era um casal legal, pareciam até recém-casados, super apaixonados.

Depois o barco ainda pararia em Parintins e Itacoatiara, mas não vi nada disso. A tarde, para evitar a janta do barco e o Cup Noodles, comprei banana chips que uns ambulantes estavam vendendo. Nas cidades maiores o barco fica parado mais tempo para carregar-descarregar coisas e isso dá oportunidade para vendedores ambulantes entrarem vendendo comidas.

Na janta eu estava no “terraço” do barco quando vi um casal comendo uns sanduíches bonitos. Fui perguntar se eles tinham comprado no barco ou trazido d casa. Daí o moço respondeu: Sorry? Perguntei em inglês, ele contou que tinha misto quente pra vender também na lanchonete. Comprei dois queijos quentes e fui comer junto com o casal de Oriximiná, que me recomendou fortemente experimentar o sanduíche de queijo com tucumã assim que eu desembarcasse em Manaus.

De madrugada quando parou em Parintins, os tais ambulantes entraram e eu escutei uma galera berrando QUEIJO! QUEIJO! e assim descobri que essa é uma “especialidade” da cidade. Mas não tinha forças para levantar e comprar.

Chegamos em Manaus acho que era 5 da manhã, ainda estava escuro. Olha que bagunça LINDA:

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Esse é o Porto de Manaus. A bagunça que funciona (como tudo na Amazônia). Subi a escadaria e fiquei parada na frente do Mercado Municipal, que recentemente foi restaurado, e é lindo. Esqueci de bater foto, foi mal, tava dormindo ainda. Enquanto pensava no que fazer, o casal do queijo-quente veio falar comigo já que aparentemente eu era a única pessoa que falava inglês por ali. Perguntaram o que eu ia fazer e se podiam ficar comigo, eu disse que tava pensando em ir ao Mercado procurar o tal pão com tucumã e queijo, e eles foram comigo. Pierre e Corinne, da França. Descobri que eles estavam viajando pelo mundo há um ano já. Trabalharam por 10 anos, economizaram, compraram um veleiro, moraram um ano na China, vieram para o Brasil, deixaram o barco numa marina em João Pessoa e foram para Santarém – e de Santarém para Manaus de barco. Uns fofos! Grandes amigos que fiz nessa viagem e que pretendo manter!

19 comentários sobre “Barco – de Santarém a Manaus

  1. Boas dicas Georgia. Pretendo fazer o mesmo percurso mas, evitar as redes. Acho que tem camarotes que dão mais conforto e talvez algum sossego.
    Depois de visitar Manaus, irei até Timbó, perto de Blumenau.

    • Oi Amanda!
      Entao, nao consegui fazer essa viagem vegan nao.
      La eh praticamente impossivel (desculpe desanimar).
      A nao ser que vc consiga se sustentar apenas com arroz e farinha…
      Acho que vc vai perder mais tempo procurando alternativas veganas do que aproveitando a viagem, infelizmente.
      Mas tambem depende do tempo q voce pretende ficar. Nas 3 vezes q eu fui, fiquei 1 mes cada. Ate duas semanas acho toleravel viver de acai, tapioca, farinha e arroz. Mas passou disso, acho foda…
      :/

      • Georgia, parabéns pelas dicas.
        Pretendo fazer uma viagem de moto e devo fazer esta viagem de barco Santarém-Manaus. Gostaria de saber se dá para embarcar a motocicleta. Valeu

      • Oi Verissimo!
        Dá pra levar moto no barco sim, bem de boas!
        A parte de baixo dos barcos é para carga, as pessoas levam até carros!

  2. Pingback: Por el Río | En Ocho Ruedas

  3. Georgia, parabéns pelas dicas.
    Pretendo fazer uma viagem de moto e devo fazer esta viagem de barco Santarém-Manaus. Gostaria de saber se dá para embarcar a motocicleta junto no barco. Valeu

  4. Gergia parabéns você realmente é uma guerreira.eu tinha um sonho desde criança conhecer a amazônia e em nov 2015 eu realizei meu sonho saí de natal de aviao e fui a manaus e chegando lá peguei um barco desci no rio negro passei no encontro das águas e subi no rio madeira até uma cidade chamada novo aripuanã am foram 30 hs de viagem e tudo foi com você descreveu em sua viagem apesar do intinerário diferente.

  5. Muito bom seu relato! Sou de Manaus, o mais longe que já fui de barco foi Parintins. Estou me programando para Julho/2017 ir de barco para Macapá. Meu irmão mora lá e minha mãe não gosta de andar de avião, então teremos que enfrentar essas muitas horas de barco. O que me deixa nervosa é que tenho um filho de 3 anos e que pretendo levar comigo. Nesses barcos que você viajou tinha mutas crianças? Como elas passavam o tempo? rsrs

    • Oi Bia!
      Nossa, os barcos são CHEIOS de crianças!!!
      Elas passam o tempo – adivinha? Brincando em celulares, dormindo, brincando com os brinquedos que levam… Ou fazendo novas amizades. Pode ficar tranquila que dá de levar criança pequena nessa viagem sim!

  6. Moro aqui em Santarém no Pará. Dormir em rede é algo super natural para mim, mas entendo o quanto pode ser difícil para quem não está acostumado… Acho interessante essa diversidade que há aqui no Brasil, ainda não conheço a região sul, preciso viajar mais.

    • Amo dormir em rede!
      Aqui no sul, especialmente perto do litoral, redes são muito comuns, mas para descansar, ler, cochilar… Dificilmente as pessoas dormem de verdade nelas. Eu me acostumei, e adoro!

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