É possível conciliar o catolicismo e a homossexualidade?

O Papa andou dando umas declarações que muita gente viu como oh meu deus, veja como nosso papa é moderninho e pafrente, e vocês feministas malucas falando mal dele!

Eu logicamente desconfiei disso, porque apesar de não ter embasamento teórico para falar de catolicismo, não faz muito sentido a ICAR “acolher” homossexuais depois que eu li o Antigo Testamento umas, sei lá, 4 vezes. Não faz sentido nenhum, na verdade, a não ser que a Igreja resolvesse sambar em cima dos livros sagrados (e até onde eu sei, ainda está um pouco longe disso). MAS, como alguns cristãos de fato dizem que o Velho Testamento foi “cancelado” quando promulgaram o Novo… Vai saber, né?

gays-catolicos

Mas rapidinho uma das minhas amigas mais distantes porém não menos queridas (Jemima, luv u) veio me OFERECER o trabalho acadêmico que ela fez justamente sobre esse assunto! Muito legal ter pessoas fantásticas na sua friendlist. 🙂

Pedi para ela se ela permitia que eu fizesse uma tradução/resumo para postar aqui, ela permitiu, bem, aqui está (o trabalho original é em inglês e espanhol).

No paper ela fala sobre o grande número de homens gays que querem ser parte da igreja católica, e como eles não são aceitos como membros “sólidos”.  Então, descreve três “explicações” dos católicos (não a posição oficial da ICAR) para a homossexualidade:

Um dos argumentos que católicos usam para alegar que existe possibilidade de conciliar o catolicismo e a homossexualidade é o argumento de que “toda a sexualidade é um dom de Deus”. Os católicos que apoiam essa visão dizem que Deus jamais teria dado esse desejo se ele também não esperasse que o mesmo fosse satisfeito como uma expressão de amor, ou seja, ele não pode ser considerado errado. A homossexualidade também foi criada por Deus.

O segundo argumento é o de que qualidade e amor é que realmente contam em um relacionamento, e não seu formato sexual. Católicos que apoiam essa visão crêem que qualquer casal que demonstre os valores cristãos de amor, moralidade e compromisso está suprindo o chamado de Cristo do “amor sobre todas as coisas” e, portanto, não estão em transgressão. Consequentemente, sexo casual, anônimo ou promíscuo é simplesmente inaceitável. Para esse tipo de catolicismo, os gays precisam se esforçar para encontrar um parceiro a longo prazo e ter um relacionamento que, espera-se, exclua o sexo, já que sua importância é menor, e se contente em viver uma união em celibato.

O terceiro argumento, dos católicos que se inclinam mais em direção a uma vida de penitência e sofrimento, acredita que as provações da condição homossexual tem certa congruência com a Paixão de Cristo na cruz. Ao colocar as provações de um gay lado a lado com o sofrimento de Jesus na cruz, vê-se uma identificação de um com o outro. Tal crença equipara a homossexualidade a uma cruz a ser carregada, sendo assim um caminho para a salvação da alma. Portanto, o homossexual deveria viver em abstinência sexual para provar seu amor por deus e, crer que tal sacrifício valerá a pena no final.

Então, o trabalho traz algumas citações bíblicas:

Levítico 20:13 Se um homem se deitar com outro homem, como se fosse com mulher, ambos terão praticado abominação; certamente serão mortos; o seu sangue será sobre eles.

Romanos 1:26-27 Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro.

Judas 1:6-7 Aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas na escuridão para o juízo do grande dia, assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se prostituído como aqueles anjos, e ido após outra carne, foram postas como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno.

Levítico 18:22 Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher; é repugnante.

Hummm. Tá.

A Igreja Católica, historicamente, definiu a homossexualidade de várias formas diferentes, inclusive como um transtorno. Em 1986, um documento definiu a homossexualidade, dizendo que embora a inclinação em particular de um homossexual não seja pecado, é uma tendência em direção a um mal moral intrínseco; e portanto a inclinação em si deve ser vista como um transtorno. Também afirma que apenas o relacionamento entre marido e mulher é que pode ser moralmente bom. E pincela: uma pessoa que demonstre um comportamento homossexual, portanto, age imoralmente.

Outras doutrinas colocam a homossexualidade como uma perversão, um pecado, um distanciamento do divino. Não parece muito conciliável até agora… No final das contas, a conclusão da ICAR invariavelmente é a mesma: qualquer homossexual “praticante” está vivendo em pecado abominável e será punido com o fogo eterno, de acordo com várias referências bíblicas.

Um trecho interessante trabalho é quando a autora pergunta: O Papa, ou a maioria dos bispos, aprovaria a adesão integral de um homossexual não-celibatário em uma paróquia católica? E tira a resposta de um livro, que diz que obviamente que não. O discurso oficial sobre homossexuais é: eles são pecadores habituais que não podem receber comunhão a não ser que se arrependam – e que deverão ser discriminados em certas situações precisamente por causa de sua homossexualidade.

A conclusão, que traduzi livremente: a alegação de membros católicos de que a prática da homossexualidade e a prática de um estilo de vida católico romano são conciliáveis é de fato falsa, já que uma coisa não poderia estar mais distante da outra. […] Uma coisa é acreditar em Deus, em Energia, em um Poder Superior ou o que quer que uma pessoa escolha acreditar e agir em concordância, mas se um homossexual desejar seguir a ICAR e todas as suas práticas regulares, ele (homens foram o foco do trabalho) deve estar plenamente consciente que essa crença o vê e às suas ações e expressões sexuais como impuras, não-naturais e não-sancionadas por Deus, imorais, más, depravadas, semi-patológicas, um crime merecedor de execução, uma “condição” que deve ser crucificada, extirpada da exist~encia, exorcizada como se fosse um demônio, a antítese de uma união vivificante e a destruição definitiva do plano de Deus para a humanidade.

Não se iludam. Não adianta vir um Papa moderninho. A Igreja é, sempre foi e sempre será nossa inimiga.

Um comentário sobre “É possível conciliar o catolicismo e a homossexualidade?

  1. Gostaria de fazer um comentário. Na verdade, a Igreja católica considera pecado abominável, toda e qualquer forma de sexo fora do casamento tradicional homem mulher. Então meninos e meninas heterossexuais que mantêm relações sexuais ANTES de casar, pessoas que sejam casadas na forma tradicional e façam sexo com outra pessoa (independente do sexo) fora do seu casamento, homem com homem, mulher com mulher, gente casada na igreja e divorciada que começa a namorar de novo (porque o matrimônio, assim como todos os outros sacramentos é, na maioria das vezes, indissolúvel – apesar de haver casos em que é considerado nulo), simplesmente, qualquer pessoa não casada (no matrimônio – sacramento), que faz sexo, é considerada fornicadora, adúltera. Claro que a maioria das pessoas faz, mas o pecado é exatamente o mesmo, pra todo mundo. Pela única razão de que o objetivo do casamento é fazer novos bebês, novas famílias e, em qualquer uma dessas situações, não isso que acontece, é sexo por sexo. (Eu não concordo, absolutamente, com essa finalidade do casamento – sou casada e não tenho filhos). Mas acho que vale dizer uma coisa: a Igreja acolhe o homossexual, o divorciado, o solteiro fornicador, a mãe solteira, a mulher que aborta, aliás, TODOS NÓS, porque é baseada no amor e misericórdia de Jesus Cristo e não há um julgamento. Não há aquele dedo na cara do tipo: você é gay e não pode entrar aqui. Isso não tem e, se tem, está errado. Porque, pela doutrina católica, Deus abomina o pecado, mas ama o pecador. Ou seja, ama a pessoa, independente do tipo de vida que ela leva. Temos que pensar que o “pecado” de um homossexual é exatamente igual ao do heterossexual que rouba, ou trai a esposa\marido, mata – pecado é pecado. E só pode ser perdoado se houver arrependimento. A questão da Eucaristia é outra. Qualquer uma dessas pessoas que citei, não só o homossexual, não pode comungar, porque condena sua alma. Só que ser humano senta em cima do próprio rabo e fala do rabo do outro, acha que seu pecado pode, mas o do outro, nossa que absurdo.
    Conheci uma pessoa homossexual que ama a Deus e sofria tanto com um conflito do tipo Deus me criou assim, então como pode me condenar, que a partir daquele dia, eu deixei de ter opinião sobre o assunto homossexualismo\ICAR. Ele tentou namorar mulheres,mas só se realizou quando se uniu a um outro homem e agora é feliz. Cada um que preste contas de todos os seus atos – e não só dos sexuais – para Deus, no dia do julgamento, após a morte.
    Sou católica, amo a Deus, amo Jesus, acho que devemos levar uma vida conforme Suas palavras, mas acredito, acima de tudo, na misericórdia. E o “ama teu próximo como a ti mesmo” é sério. Tem que amar e respeitar o próximo, seja ele quem for, faça o que fizer. Preconceito – em todas as suas formas – é falta de amor, falta de caridade, falta de Deus. Se tem padre por aí fazendo diferente, discriminando, expulsando da Igreja – é ele que está precisando rever seus conhecimentos do Evangelho.
    Gosto muito dos seus posts (de quase todos, pelo menos 🙂 )
    Beijos

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